terça-feira, 28 de maio de 2013

O pesado madeiro da indiferença

Era mais um dia daqueles fatídicos: o frio era intenso e o céu estava nublado, acinzentado, esperando por mais uma fria chuva. Já era por volta das 3h da tarde, quando passei por uma avenida menos movimentada e observei a cena que me chamou muito a atenção: na calçada, andando a pé, na contramão, vinha um cidadão, de aparência extremamente simples, roupas castigadas pelo tempo, rosto que estampava a dor do sofrimento e o cansaço que trazia em seu próprio corpo, carregando dois longos madeiros notoriamente bem pesados.


Passei, mas aquilo ficou impregnado em minha mente: o pensamento insistiu em permanecer em minha memória, chamando-me à responsabilidade. Uma voz bradou em meu subconsciente:
“- Volte e registre esse fato! Use suas habilidades de escritor e compartilhe o que está vendo!”
Dei a volta dois quarteirões adiante e calculei, mais ou menos, onde estaria aquele sofredor para registrar o momento. Preparei minha máquina digital e, ao avistá-lo novamente, parei o carro e o fotografei. No instante seguinte em que me pus a observá-lo mais detidamente, os caibros escorregaram-lhe das mãos cansadas e caíram-lhe dos ombros. Imediatamente, apareceu um outro homem para ajudá-lo, seguido, logo após por um terceiro. Percebi que os três eram amigos e que, provavelmente, trabalhavam juntos, todos com a mesma aparência sofrida de trabalhadores braçais. 
Desci do carro e tentei conversar com eles, mas se assustaram e disseram que não podiam parar porque “estavam trabalhando naquele momento”. Insisti e um deles me disse que as vigas eram para reforçar suas frágeis casas, ameaçadas pelo mau tempo (frio e chuva). Haviam recolhido os madeiros em um contêiner de entulhos na rua - restos que as pessoas costumam descartar, mas que para eles eram como se fossem madeiras nobres naquela situação angustiante e precária. Triste cena aquela! Que impotência a minha diante de tal situação. Incapaz de poder ajudá-los melhor naquele momento, despedi-me e segui meu trajeto.



Segui mais umas quatro quadras e deparei-me com outra cena: um homem (sobre a aparência, vocês mesmos podem ver na foto abaixo) separava do lixo papelão e papéis que iria vender por R$0,20 o quilo. Perguntei se não se importaria que eu tirasse uma foto de sua digna atividade. “Tudo bem” - disse ele, com certa naturalidade por ainda poder ter algo que lhe "garantisse" o sustento básico. Fiquei surpreso com a atitude positiva daquele homem, apesar de tal situação penosa.



Fiz questão de cumprimentá-lo, de apertar sua mão calejada, sofrida e valiosa e de poder transmitir a ele um pouco do alento de Deus. Sorriu contente e agradeceu-me pela atenção, sabendo que pouquíssimas pessoas fazem isso. 
Em tempos nos quais há tanta gente corrupta e inescrupulosa roubando o que poderia realmente ajudar pessoas como aqueles que hoje olhei - com os olhos que o Senhor Deus me permitiu perceber - pensei no bem que podemos fazer com simples atos de bondade e de caridade. Um simples parar, olhar e conversar com certas pessoas como essas creio que é realmente divino.
Como cristão, hoje escrevo pelos miseráveis, pelos pobres, pelos que andam nessas ruas, suando e trabalhando como podem, que não se entregaram ao vício, que lutam pelo seu sustento com as poucas ferramentas, os poucos recursos que têm.

Compartilhem essa história REAL, VERDADEIRA que precisa ser reescrita!

Quando sairemos de nossa comodidade, da indiferença e tomaremos uma atitude mais digna?

Alguém dirá: o governo que faça!

Façamos NÓS TODOS o que podemos fazer também! Há muita coisa que está ao nosso alcance!
Vamos deixar a mediocridade de lado, a frieza de espírito e devolver para Deus o que Ele nos deu tão benignamente!

Dai de graça o que de graça recebeste! (Mt. 10:8) 

Que o Senhor ilumine os corações e mentes de todos nós para que cada um haja conforme a sua consciência e busque praticar o bem nas pequenas coisas, na caridade, no AMOR ao próximo. 
O frio que mata verdadeiramente é o da INDIFERENÇA, o da cegueira moderna que insiste em passar ao longo da estrada, mantendo-se distante do próximo e fingindo não o ver carregar o pesado madeiro da indiferença!

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